O presente documento sustenta a tese de que
as atuais dificuldades do sistema educacional brasileiro resultam de uma visão
de curto prazo, pautada pelo sistema capitalista, intrinsecamente relacionado
com o conceito de mercado. Essa visão imediatista é ampliada ou reforçada pelos
correntes sistemas de avaliação universitária, que estão concebidos para captar
sintomas e não diagnosticar as efetivas causas das crises que assolam a
universidade pública brasileira. O Programa de Educação Tutorial (PET), que
apóia-se na tríade ensino, pesquisa e extensão, distingue-se por representar,
talvez, na melhor alternativa educacional efetivamente colocada em prática no
Brasil ao longo dos últimos 30 anos, permitindo semear e fundamentar uma nova
abordagem lógica para o desenvolvimento do trabalho universitário.
Estamos imersos em um ambiente capitalista,
construído e orientado pelos laboratórios científicos. A ciência rege de forma
soberana os destinos da globalização econômica atual e de nossas vidas. Esse
ambiente deve ser analisado com cuidado. No século XVI, quando entramos na
modernidade, o capitalismo de produção foi enfatizado. No início do século XX, houve migração de um
capitalismo de produção para um capitalismo de consumo. O Brasil, por sua
vez, embora já tenha estado na vanguarda
em função das incursões de Portugal por via marítima no século XVI, recusa-se
ou tem dificuldade de entrar na chamada modernidade, sinônimo de cultura
científica. Essa cultura científica está associada a um sujeito da ciência
(lógica transcendental), que, por exemplo, em alguns países como os Estados Unidos,
está claramente definido como do tipo Fordiano, de característica intervalar.
No Brasil, esse sujeito da ciência, em função da formação jesuítica nacional,
assume ares, muitas vezes, de um sujeito coletivo. Essa indefinição pode estar
associada a atrasos ou eventual construção do que seria um estágio além da
modernidade, possibilitado pelo caldo cultural brasileiro. Existe, enfim, um
inconsciente nacional, caracterizado pela chamada lógica da diferença ou do
outro. Adicionalmente, a história do país está associada a um princípio
dialético, que, muitas vezes, chamamos de progresso.
Em especial, está-se aqui a destacar que, ao
contrário do pensamento usual, aristotélico e científico, o PET proporciona uma
oportunidade ímpar para revelarmos e trabalharmos com todas as lógicas do
pensar e não nos asfixiarmos em uma modernidade de bases cartesianas
estritamente associada com a lógica científica, que tem exercido, com severas
dificuldades, a nível nacional, o papel de verdadeiro elixir estimulador do
desenvolvimento brasileiro.
Os sistemas de avaliação não têm conseguido,
de fato, avaliar, os fatores endógenos e inconscientes dos vários participantes
da pesquisa nacional, envolvendo, professores, alunos e
técnico-administrativos, que verdadeiramente são os motivadores das ações
empreendidas por esses agentes educacionais. As avaliações de produtividade têm
sido construídas na base estrita de números que permitem a análise
quantitativa, mas que, infelizmente, são insuficientes para recolher subsídios
para traçar estratégias educacionais mais globais, uma vez que desconhecem a
lógica do desejo e satisfação humanos.
O resultado desse processo de avaliação
precário acaba induzindo a tomada de decisões que estão sendo implementadas nos
órgãos de fomento no sentido de tornar mais pragmáticos os cursos e trabalhos
em desenvolvimento na Universidade, onde, então, a lógica do mercado acaba por
condicionar a alocação dos recursos. Esse pragmatismo exacerbado leva a retirar
do ambiente universitário a profundidade e o estímulo de reflexões
acadêmico-científicas de cunho mais questionador e inovador. Esse erro está
baseado em um pensamento de senso comum, errôneo, de que as empresas estejam
precisando de que a universidade prepare
mão-de-obra de perfil profissionalizante do tipo prático e não questionador e
inovador. Essa visão distorcida decorre de uma formação capitalista familiar,
sem a compreensão abrangente de como opera o sistema capitalista global.
Como elemento que se contrapõe a esse tipo
de encaminhamento do destino educacional brasileiro, surge o ensino tutorial,
que é a mola propulsora do PET, representando a luz e paradigma para a
implementação de novas políticas governamentais de forma a produzirmos efetivos
avanços no ensino superior brasileiro.
A experiência de tutores que interagem com
alunos, com abordagem de grupo, difere, por exemplo, do tradicional sistema de
iniciação científica, que, embora represente importante estímulo para formação
de recursos humanos na graduação, apresenta limitações significativas em termos
de formação da cidadania.
Prof. Dr. OTTO CORREA ROTUNNO FILHO (UFRJ)
Presidente do II Congresso Brasileiro da SBrET
Prof. Dr. OTTO CORREA ROTUNNO FILHO (UFRJ)
Presidente do II Congresso Brasileiro da SBrET
AGRADECIMENTOS E HOMENAGEM: Ao educador Anísio Teixeira (in memoriam) e ao filósofo Luiz Sergio
Coelho de Sampaio (in memoriam), pela
inspiração de estabelecer a discussão fundamentada de temas acadêmico-universitários
essenciais, com enfoque na Educação Tutorial, para repensarmos a atuação social da
Universidade no século XXI.
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