A matéria abaixo foi reproduzida do caderno MAIS da Folha de S. Paulo deste domingo (28/09/2008), p.9 e também pode ser encontrada no endereço web: http://cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br/arch2008-09-28_2008-10-04.html
A matéria relata o caso de dois físicos que plagiaram trabalhos internacionais na ânsia academicista do "publish or perish" (literalmente, "publique ou morra"). O que causa estarrecimento ao jornalista da matéria, Marcelo Leite, é a absoluta falta de ética da própria IES tentando acobertar o que é, naturalmente, um crime: o plágio. Este espírito de corpo tem mostrado ao mundo o quanto a Academia está infectada pelo mesmo vírus que ela acredita combater: a falta de ética. As IES e seus dirigentes devem saber que um processo ético, seja ele de plágio, falsidade ideológica, falta de urbanidade, etc. deve iniciar, prosseguir e terminar de acordo com os preceitos da lei. Porém, o espírito de corpo parece imperar e tudo continua como antes no quartel de abrantes ...
Mas a utopia prossegue e a Academia deve correr para, ao menos, não perder-lhe de vista no distante horizonte ...
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MATÉRIA REPRODUZIDA DO JORNAL - FOLHA DE S.PAULO
"A Universidade de São Paulo, maior e melhor instituição pública de pesquisa e ensino superior do Brasil, faz 75 anos em 2009. (...)
Não só ex-alunos, mas todo contribuinte que sustenta a USP e qualquer pessoa que cultive valores intelectuais deve preocupar-se com o modo como o caso [de plágio no Instituto de Física] foi tratado pela reitoria. Se a instância máxima da universidade agiu com o propósito de resguardar seu prestígio, bem, escolheu a pior maneira de fazê-lo.
Causam perplexidade dois comunicados sobre o caso divulgados pela reitoria nos dias 22 e 23 deste mês (na internet: www.reitoria.usp.br/reitoria). O primeiro informava que a Comissão de Ética da USP havia concluído -uma semana antes...- "os trabalhos de apreciação do caso de suposto plágio envolvendo professores do Instituto de Física".
O qualificativo "suposto" indica a disposição clara de proteger os investigados, embora eles próprios tivessem admitido o deslize. O paternalismo corporativo (ou seria "maternalismo"?) vem explicitado a seguir:
"Ressalte-se que o relatório da Comissão de Ética não é um documento público, uma vez que seu conteúdo envolve a avaliação de comportamento ético individual. Portanto, a divulgação de atos do processo só pode ser feita com a autorização dos investigados, conforme reza a Constituição Federal, em seu artigo 5º, [inciso] X". (...)
Uma espécie de errata foi publicada pela reitoria no dia seguinte, com a satisfação negada ao público 30 horas antes:
"Diante da conclusão dos trabalhos da Comissão de Sindicância e da Comissão de Ética, sobre a investigação de plágio, a Reitoria comunica que, no entendimento da Comissão de Ética, embora os trabalhos científicos, que foram objeto da investigação, contenham pesquisa original, houve um desvio ético na redação dos mesmos por uma inaceitável falta de zelo na preparação dos artigos publicados. Isso resultou na consignação, pela Comissão, de uma moção de censura ética aos autores, pela não-observância dos preceitos éticos da Universidade". (...)
Não só ex-alunos, mas todo contribuinte que sustenta a USP e qualquer pessoa que cultive valores intelectuais deve preocupar-se com o modo como o caso [de plágio no Instituto de Física] foi tratado pela reitoria. Se a instância máxima da universidade agiu com o propósito de resguardar seu prestígio, bem, escolheu a pior maneira de fazê-lo.
Causam perplexidade dois comunicados sobre o caso divulgados pela reitoria nos dias 22 e 23 deste mês (na internet: www.reitoria.usp.br/reitoria). O primeiro informava que a Comissão de Ética da USP havia concluído -uma semana antes...- "os trabalhos de apreciação do caso de suposto plágio envolvendo professores do Instituto de Física".
O qualificativo "suposto" indica a disposição clara de proteger os investigados, embora eles próprios tivessem admitido o deslize. O paternalismo corporativo (ou seria "maternalismo"?) vem explicitado a seguir:
"Ressalte-se que o relatório da Comissão de Ética não é um documento público, uma vez que seu conteúdo envolve a avaliação de comportamento ético individual. Portanto, a divulgação de atos do processo só pode ser feita com a autorização dos investigados, conforme reza a Constituição Federal, em seu artigo 5º, [inciso] X". (...)
Uma espécie de errata foi publicada pela reitoria no dia seguinte, com a satisfação negada ao público 30 horas antes:
"Diante da conclusão dos trabalhos da Comissão de Sindicância e da Comissão de Ética, sobre a investigação de plágio, a Reitoria comunica que, no entendimento da Comissão de Ética, embora os trabalhos científicos, que foram objeto da investigação, contenham pesquisa original, houve um desvio ético na redação dos mesmos por uma inaceitável falta de zelo na preparação dos artigos publicados. Isso resultou na consignação, pela Comissão, de uma moção de censura ética aos autores, pela não-observância dos preceitos éticos da Universidade". (...)
Qual "desvio ético"? Que "preceitos éticos" deixaram de ser observados? É uma vergonha que a reitoria prossiga em sua recusa a dar uma explicação completa do caso."
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