sexta-feira, 14 de outubro de 2011
SOBRE AVALIAÇÃO DO ENAPET 2011 ou, na verdade, SOBRE A ARTE DE FALAR PELOS COTOVELOS
Existe uma máxima na psicologia/psiquiatria denominada negativa-afirmativa, que se expressa quando o falante que produz o discurso afirma, logo de início, que não produziu o mal que ele quer criticar. No documento “Avaliação do Enapet 2011”, estampado no pouco conhecido e divulgado Portal da “nova” gestão da CENAPET, encontramos a pérola: “que a diretoria da CENAPET se nega a avaliar a conjuntura de forma maniqueísta, como se tivéssemos, de um lado, os bons e honestos entrincheirados em defesa do PET, e do outro lado, os malvados da SESu/MEC tentando acabar com um projeto que salvará a excelência acadêmica na universidade”. Em bom “psicologês” a frase é clara: afirma peremptoriamente que são maniqueístas, entre outras verdades mais!
É risível quando a segunda afirmativa se centra sobre a frase: “(...) o objetivo primeiro era dar fim a um desentendimento dentro da comunidade petiana que vinha impossibilitando o diálogo interno e enfraquecendo nossas posições políticas.”
Com esta afirmativa-negativa inicia-se a grande verdade que infelizmente tomou conta de uma gestão que se aliou à SESu para liquidar dez anos de história de resistência do PET e 30 anos de sua existência. Para deixar mais clara esta verdade, deixemos os sujeitos do discurso falarem: “Existia um desentendimento de alguns pró-reitores com tutores PET; Existia também dentro do FORGRAD e da SESu a ideia de que a CENAPET se comportava como um "sindicato" que agia de forma corporativista, apropriando do programa de forma ilegítima.” Estas duas pérolas de “pensamento” demonstram o que em psicologia/psiquiatria poderia ser denominada de síndrome de Estocolmo, ou seja, passaram a discursar com a “lógica” do opressor para delegitimar todo o passado e corrompê-lo.
Essa questão pode ser cristalinamente expressa em mais uma das tantas pérolas do discurso desta gestão, como, p.ex.: “Apesar de a autonomia universitária ser propalada por todos, os próprios dirigentes das nossas universidades sempre tiveram dificuldade de lidar com a autonomia dos grupos PET e com o papel de liderança de alguns tutores”. Isso significa dizer que, como a assim denominada “autonomia dos grupos e liderança de alguns tutores” incomodava, então, explica-se a ferocidade da SESu aliada ao FORGRAD para liquidar o PET (porque é isso que as Portarias 975 e 976 fizeram – além de terem liquidado também o outro Programa, CONEXÃO-SABERES).
O mais constrangedor é constatar a tentativa (frustrada!) de construir uma versão da “realidade” salvando o FORGRAD de suas responsabilidades. Esta tentativa é claramente constatada na seguinte frase: “Assim, o FORGRAD, na época, não foi cooptado pela SESu, mas sim foi agente na formulação da portaria 976. Importante notar que essa não era, nem é, uma visão hegemônica sobre PET dentro do FORGRAD, mas foi a visão que predominou no processo de reformulação do programa.” Este rudimento de “pensamento” expressa a busca de compreensão de porque o PET merecia ser destruído.
Complementando o espetáculo de absurdos, diz a atual gestão da CENAPET: “A portaria efetua modificações que prejudicam a realização da histórica proposta de formação do PET e que, a médio prazo, vão reduzir a qualidade do programa.” Hellooooooooo .... essa tentativa medíocre de crítica não se sustenta posto que um dos Diretores da CENAPET discursou efusivamente, pavoneando-se para o Ministro Fernando Haddad, durante o ultimo dia da SBPC, e de forma pública, rasgando-se em elogios por “tudo que o Ministro havia feito ao PET”. Quem o autorizou? Porque a CENAPET até o momento nada falou sobre este lamentável episódio da nova gestão.
Após estas sérias “cotoveladas”, parte-se então para o auto-elogio, como se antes dessa gestão, em dez anos consecutivos de alicerçamento de um movimento legítimo de resistência e de propostas para o PET, dizendo que esta foi a primeira vez que se estabelece “relações diretas” com x ou y.
As gestões passadas da CENAPET sempre tiveram um diálogo franco com todas as instituições, especialmente a SESU, com interlocutores da presidência das Comissões de Educação da Câmara e do Senado Federal, sem cooptações e com exigências públicas.
Realizamos Audiências Públicas que mudaram o tratamento do Programa sob os acólitos do Ministério. No entanto, segundo o documento da “nova gestão”, e como pontuado antes, as gestões anteriores tinham se transformado num “sindicato” [sic]. Bom, aqui há duas incongruências vilânicas: i) se nos transformamos em “sindicato”, é bom que se apresente a Ata de Fundação do Sindicato e os talonários do imposto sindical; ii) se tivéssemos nos transformado em sindicato teríamos nos transformado na cooptação aberta que se vê hoje na nova gestão, como ocorreu com todo o falecido sindicalismo brasileiro. Bazófias!
Termômetro deste distanciamento da atual gestão pôde ser sentido na Assembléia final do ENAPET, onde, numa reunião extremamente conturbada, com duas deposições de Mesa, as divergências de condução não foram sanadas e a dissenso é que ficou no lugar de onde deveria vir a clarividência e nenhuma cooptação.
Infelizmente, a luta se tornou mais feroz, pois além de lutarmos contra os maniqueísmos do MEC, tentando desfigurar/destruir o PET, agora temos uma gestão alinhada e cheia de elogios aos algozes.
À luta, ainda que tardia!
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2 comentários:
Sou aluno do professor Luiz Eduardo há mais de 4 anos. Quando soube dos acontecimentos recentes no PET enviei o seguinte email a ele (dias antes tínhamos trocado emails sobre gastronomia):
Oh professor...
Mas eu não tinha dúvida de que isso iria acontecer
Estamos todos migrando para o mundo dos enlatados, dos industrializados
Os peixes frescos assados com sal estão sendo extintos
Aquilo que o senhor sempre combateu nos alimentos...
Está acontecendo no PET
O que se tem que fazer é colocar a rotulagem correta no PET
Pois os sacanas vão dizer que o peixe enlatado é muito mais saboroso, que tem muito mais ômega 3 e 6 e que tem 0% de gordura trans na porção.
E vão mediocrizando tudo. Controlando a pesca. Construindo enormes criadouros artificiais de peixe
E os pescadores de niterói vão perdendo o emprego
Ou vão todos vender seus peixes pra indústria de enlatados
Triste o que está acontecendo. Estive presente na plaestra final do Minsitro Haddad e foi constrangedor ver o Diretor da CENAPET rasgando-se em elogios ao Ministro.
Lamentável porque o PET começa a perder uam de suas unicas possibilidades de confronto contra as arbitrariedades e erros do MEC.
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